BEIJO DE BOCA
— Vamos brincar de molhar a boca?
Convidava a namoradinha
vinda com os lábios molhados.
Bocas, antigamente,
falavam com os sentimentos
descobertos na maior simplicidade.
Brincar de molhar a boca
era uma senha – ou convite? –
dedicada aos hormônios orquestrados.
Não é à-toa que os namorados se convidam aos sorvetes!
Aprender a molhar a boca
seria a brincadeira séria
de esconde-esconde
das duas línguas
ao público.
Gostar de molhar a boca
seria o sinal definitivo
às cabras-cegas
de mau-hálito
pro amor.
Não é à-toa que os apaixonados mostram os dentes à felicidade!
Antes que a cumplicidade
dance ao ritmo do salão de baile
os lábios, umedecidos e agradecidos,
procuram o gosto da intimidade da saliva.
Não é à-toa que as palavras não saem quando a boca beija respondendo!
Tantos foram os soletrados
que, de cor, deveria tê-los assimilado
mesmo com inchaço dos lábios gastos
pelo silêncio de tanto e tanto aprendizado.
Não é à-toa que o desgovernado coração sai pela boca!
Mas, um dia, os espíritos, sem ânsias
tranqüilizarão a brincadeira úmida
de molhar outras bocas adultas
apesar do gosto da infância.
O beijo de boa-noite será fundamental
- na saliva-benta de cada dia sem desgosto –
apesar da pressa dos lábios quase fugitivos
pelas ruas em busca de beijos de boca.