Os pés e a pipa
Silenciados são os pés de quem perdeu o foco,
Estagnou-se.
Paralisou-se, podendo ainda andar.
Sem trilhar caminhos,
Os passos do viajante
Percorrem uma rua no anonimato
Pois desencorajados, não sonham mais
E sempre com medo de alçar novos vôos, atrofiaram-se.
Quem tem medo de lutar
Jamais saboreará uma conquista.
Galgando no dissabor da glória
Deixa passar em branco uma linda história
Que um dia, ainda menino, pode estrelar.
E lá no alto uma pipa voa,
Dança, rodopia...
E quando está prestes a cair
Sente a firmeza da linha
E se empina, embeleza, eleva-se
E os olhos do menino de pés descalços
Saltam no fantástico mundo da admiração,
Ilusão, contentamento.
E seus passos correm em direção ao vento
Quando, após fazer arte,
A pipa cai no solo e provoca euforia
Nos meninos daquela periferia
Que não anularam o prazer de voar com os pés
E desenfreados, correm em direção daquela pipa
Que, quando alcançada por uma mão pequenina
Sente o aconchego e o tremor no palpitar do coração
Que celebra a vitória e planta um sonho
Em cada brincadeira,
Na preservação da inocência,
Na força ainda ingênua,
Na fita rompida pela imaginação
Que marcara para sempre a sua história
Cujo retrato a consumou.