A TI, COMPANHEIRO ( Poema-título do primeiro livro da autora)
Por que me negas?
Se para que tu existisses
Eu dei um sim; (só eu poderia.)
Por que compras por baixa valia
Este corpo, este mesmo corpo
Que te serviu de origem,
Sagrado invólucro?
Não nasci para dominar máquinas,
Não fui feita para soerguer esta massa
Intrincada de leis, mundo efêmero,
Mas o faço!
Tudo eu dou,
Por tudo luto.
Meus pés, já sentem também
O lanho do asfalto fétido
Na noite nevoenta.
Já tenho filhos para suster,
Ideais para combater,
Minhas próprias muletas.
Todavia, o meu reino é mais bonito...
Rejo corpos, sublimo almas,
Só eu tenho a sapiente percepção;
Tu vês o todo, eu vejo detalhes,
Tu ages mais pela cabeça,
Na minha morada, vale o coração.
Não temo o teu braço forte
Se os meus, mais poderosos
Acalentaram-te um dia.
O teu corpo musculoso?
Não me intimida.
Foi pequeno e frágil como o pó, o vento,
Viveu prisioneiro da minha barriga.
Nada devo a tuas palavras
Medidas, aprendidas, calculadas.
Frui-me aos lábios naturalmente
O que tenho, o que devo dizer;
Nasci para ver sem olhar,
Aprender por mim mesma a agir.
Por que hei de fugir,
Se persegue-me como o cão ao dono?
Oh! Deus dos machões, “homens indefinidos”,
Rogo-te na excelsa missão que confiaste-me,
Mais força, paciência e fé.
Faça-me mais consciente
E agradeço-te!
Antes que eu nascesse GENTE
Tu permitiste que eu fosse MULHER.