UM POEMA DE DOR...

“Se tu soubesses, quando deixamos de ter os nossos velhos, até que ponto lamentamos não lhes havermos dado mais do nosso tempo.”

Daudet, Alphonse

Meu pai, quando morreu naquele dia,

morreu apenas parte dele.

Do inteiro que ele era,

grande parte foi perdendo pela vida...

Tornou-se triste e morreu um tanto dele.

Por mais que se fizesse,

não lhe chegava à alegria.

Nada lhe era bom que o contentasse.

Depois de perder o entusiasmo resta pouco.

Resta nada se não quiser se erguer e seguir...

Os dias e as noites conjugam-se. Tornam um escuro só.

Depois é o coração, que bate e bate não se sabe prá quê.

Se não lhe escapa um sorriso por quase nada,

É porque quase nada lhe resta nesta vida...

Um mundo entre a cabeça e os pés da cama,

mundo não é, nem cama. É prisão de um ser livre.

Meu pai já não sorria nem chorava,

porque nada mais lhe tocava de verdade.

Tudo fizemos. Eram médicos de corpo, mente

e alma. E remédios e remédios que não remediavam.

Deve ser a tristeza um vício

que facilmente nos faz dependentes.

O caminho mais curto que há é a falta

de desejos e a ausência de sonhos reais ou irreais.

Meu pai foi morrendo pouco a pouco

pelo caminho. Naquele dia em que a

vida de fato lhe deixou, ele não era mais ele,

era, na verdade, uma sombra fraca do que foi.

IVAN CORRÊA
Enviado por IVAN CORRÊA em 07/09/2010
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