A TRÊS PASSOS DO SOL
A TRÊS PASSOS DO SOL
A cama se estende e se alonga e fica grande demais para mim
Sôfrego, vazio em um soneto sem fim
É quando o que sinto também preenche todos os espaços de minha mente
A noite infinita, angustiosa, salgada e quente
A longa espera pelos primeiros raios da manhã
Mas o sol nasce e se põe em lados opostos a minha janela
Que permanece fechada e meu quarto vazio
E eu “o sentinela da noite”
“Cavaleiro da lua”
“O demônio do nada”
Devaneio em paisagens insólitas e medonhas
Desprendo-me do corpo e vago... Vazio... Sozinho
Perdido em mim mesmo e no cosmos que carrego por bagagem
Um universo codinome – pecado
Passos mal dados que confundiram toda a minha travessia
Errei e continuo errando muito mais do que merecia
Atrasei-me para minha própria história
Um joguete do destino, e apenas traços de memória
Dardos e flechas insistiram em perfurar os meus sonhos
Anjos caídos, infantes leprosos, assombros medonhos
De face a face com o inferno
Corpo nu e estomago vazio, no frio calor do que não mais era inverno
Percorri passo a passo cada traição da minha alma
Que se acolheu no breu e se expandiu na alva
E o interminável medo do escuro
Que por mais que me escondesse os espectros me avistavam... Eu juro
E as poças de sangue que se formavam sob os meus pés descalços
E os cacos de vidro que fendiam minha pele em pedaços
E ofendiam minha vida
E clamavam por minha morte
Com uma passagem de ida e nenhum resquício de sorte
Não combati nenhum combate
Esqueci minha carreira
E me perdi de minha fé
Fé na vida, vida pobre e ofendida
Vazia, imprópria e dividida
E os três passos que separam do sol
E as três notas antes da bemol
E o câncer que se multiplica no que fora verde
E as chagas que eram sete no exato momento de ver-te
E as duvidas que eram mil na hora que despontara o dia
Seriam quantas quando beijava a morte e da vida me despedia.
Sérgio Ildefonso 17.10.2006
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