LUA DE NOSSOS DIAS
Noite resfolegada. Uma desmedida lua rúbida, hodierna,
Decora o céu de minha contrita janela, cruzando a linha do horizonte
Não me lembro dela assim na minha adolescência ou juventude...
Nesta época ela flutuava, não orbitava como hoje em dia se lhe diz
Era poeticamente declamada em verso e prosa - lua prata -
A lua clara, dos magníficos contos de fada e da luxúria disparatada,
A lua argêntea, morada sagrada de São Jorge e seu dragão,
A lua boêmia, das cantigas, oferecida à todas enamoradas...
A lua de nossos dias parece-me uma simples formação de areia coral
Uma espécie de satélite intruso que alimenta de incertezas e anomalias
As ruas sujas e esguias das cidades animalizadas, cruentas, vadias
A lua sangra e minha face enrubesce... Que dias tacanhos estes...