Sonho de um fingidor
Passados os primeiros minutos do novo dia
vou te encontrar no teu mundo.
Mas não espero por ti
porque sei que neste mundo o imprevisível é o alicerce.
Vago... vago...
Te encontro?
...
Te vejo nascer...
Brotas como uma das mais belas flores.
Nasces, e começas a me falar, a recitar, a contar...
E teu falar me leva, me emociona, me cativa.
Me faz chorar, sorrir, refletir, me faz ser eu.
Olho para ti e percebo que aqui eu não existo
porque sinto que tu és eu, e que eu sou tu... que sou metade.
Metade fisicamente dividida, não psicologicamente dividida.
E tu me falas. Mas não falas pra mim porque não me vês.
Já disse que não existo.
Mas eu te ouço. E posso até deitar-me no chão de areia
e apoiar, nas mãos, o queixo, como uma criança a ouvir histórias.
E tuas palavras me fazem flutuar...
Começas uma das falas mais lindas.
Me falas daquele que te plantou aqui.
E, no final de tua fala, ele fenece
levando consigo a semente que plantara.
Não compreendi o motivo.
E ainda não entendi...
Vejo-te perdendo a cor, a cabeça baixa e tranquila
e correm lágrimas num rosto já amarelado...
Os braços pendem e a cabeça se inclina para trás.
Tua pele escurece...
O útero que te deu a vida te reclama
e começa a consumir-te...
Eu estou inerte...
Só agora, quando teu mundo me devolve os movimentos
é que corro, em vão, na tua direção
e começo a escavar, escavar...
Onde estás?
...
Volto ao meu mundo e
tento lembrar de tudo que me falaste.
Mas, só tento e não lembro...
Só recordo-me de uma coisa:
que tu estás em mim.
Não esqueci que somos um...
Fisicamente ou psicologicamente divididos?