NOVE DE JULHO

meu poeta,

hoje,

[felizmente]

senti uma tamanha urgência

de você,

por isso resolvi

um bilhete rabiscar

para que algumas notícias

de cá possam voar

para perto do seu ladinho de lá.

As mulheres feias, infelizmente, tornaram-se mais feias

enquanto as bonitas não estão mais bonitas assim;

resolveram – num complô – explodir

para uma felicidade abrangente:

passaram a dizer um “não” solene aos seus parceiros

do tempo das vacas magras

só porque ainda eles não lhes provocam

orgasmos múltiplos

por alguma razão

[razão?]

Os homens dóceis, infelizmente, tornaram-se menos dóceis

enquanto os selvagens, cada vez mais selvagens,

assumiram – num complô – explodir

num motim de academias:

gregos e babacas, fizeram do corpo alma

até no tempo das vacas gordas

enquanto os cuidados lhes eram bem menos cuidados

pela mulher que emagrece

por alguma razão

[razão?]

meu poeta,

hoje,

[felizmente]

senti uma tamanha urgência

de você;

por isso resolvi

um bilhete rabiscar

para que algumas notícias

de cá possam voar

para perto do seu ladinho de lá.

A paixão,

[aos poucos]

a cada dia que passa,

descompromissa-se tanto com o amor

que homens e mulheres nem mais se olham de frente

[mesmo nus]

constrangidos, muito constrangidos

pela falta de sentimentos

sem razão

[razão?]

o mundo, aqui, meu poeta,

[agora]

só é sublime

quando alguém se lembrar que num nove de julho

chorou, pela última vez, um poetinha.

Assinado,

Djalma Filho.