EM TRANSE
EM TRANSE
Lílian Maial
Há muitos olhos nos becos da noite,
que não cansam de sondar meus medos.
Há muito frio no escuro da esquina,
que se esquiva em meus passos trôpegos.
Há muitos gritos no calar da madrugada,
que ecoam em meus ouvidos indefesos.
De tanto perambular e me esbarrar,
a emoção congela a mente
dá nós na garganta,
crava estacas no coração,
sangra sem barreiras.
Sou observada em meu caminho,
à espreita de um falsear,
desculpa pra levantar.
Meu corpo não mais obedece,
segue lunático,
busca a emoção aonde quer que a encontre:
hoje, amanhã, ontem...
Acorda do transe em que se encerra,
para levar-me de volta à mesa,
frágil presa do dia a dia.
Insossa alegria de dias passados,
sem compromisso,
com memória de trajetória
de caminhos por onde nunca passei.
Rio, 23/06/00.
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