FOLHA

Quão tenebrosa é a surda incerteza

ante os urdumes dos dias vindouros!

Baila tão cega, erosiva vileza,

nos tons, nas luzes dos meus passadouros.

Tanto me assusta esta fragilidade,

que me toca o cerne em sopro implacável

e me leva, sorvendo a vã vaidade,

solto no vento a plainar vulnerável.

Ainda que eu pense amparar-me na bolha

imensa e densa da tola soberba,

desviando dos dardos, poltrão, na encolha...

Só me resta aceitar, não há escolha,

tal fato inconteste, verdade acerba:

Sou para a Terra não mais que uma folha.

Marco Aurelio Vieira
Enviado por Marco Aurelio Vieira em 02/09/2010
Reeditado em 06/10/2010
Código do texto: T2473764
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