FOLHA
Quão tenebrosa é a surda incerteza
ante os urdumes dos dias vindouros!
Baila tão cega, erosiva vileza,
nos tons, nas luzes dos meus passadouros.
Tanto me assusta esta fragilidade,
que me toca o cerne em sopro implacável
e me leva, sorvendo a vã vaidade,
solto no vento a plainar vulnerável.
Ainda que eu pense amparar-me na bolha
imensa e densa da tola soberba,
desviando dos dardos, poltrão, na encolha...
Só me resta aceitar, não há escolha,
tal fato inconteste, verdade acerba:
Sou para a Terra não mais que uma folha.