A  NETA  DA  FEITICEIRA

Com dedos diligentes vai escrevendo
letra a letra, as palavras guardadas,
(histórias, lendas, ditos, receitas...)
e, à lareira, há muito contadas
mas esquecidas da tribo dispersa.

Senta-se no banco tosco enegrecido,
tão velho como traves de ombreira.
Sobre os joelhos ossudos coloca
o velho pergaminho preparado
e nunca usado,
pelo avô da sua avó, A Feiticeira.

O seu lar é a velha cabana do Pai
suja, poeirenta, escura e miserável.
Da fogueira  o fumo sai
que a cega e de irritação a faz chorar.
A pouca luz é a da triste candeia.

A Feiticeira mostrou-lhe as letras
e também a arte de as juntar
com a paciência própria de iluminada.
E antes de Partir, fê-la de pé jurar
que a Arte de as letras juntar
seria dela, a herança sagrada.

Palavra a palavra vai bordando
a Saga do Cavaleiro Negro,
aquele que, destemido e audaz
combateu o Dragão do Norte
que, de tão forte,
fazia tremer todo o Leblando!

Com traços firmes desenha
palavras de embalar, que ao luar
a Mãe cantava de braços erguidos,
qual sacerdotisa dos contos de encantar!

Zimbro, urtiga, amoras brancas
(daquelas da mata virgem),
bagas verdes, flores de espinheira,
mais dois cabelos de carpideira,
nozes bravas, trigo roxo,
em pote de barro para o catarro!

E mais não escreveu a neta da Feiticeira
que morte teve às mãos de Rodrigo,
salteador de caminhos e choças,
foragido dos soldados de Artur,
Rei de lendas e Cantares de Amigo!

Beijinhos,
Teresa Lacerda
Enviado por Teresa Lacerda em 01/09/2010
Reeditado em 01/09/2010
Código do texto: T2473090
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