Sou tão estreito e imperfeito de ribanceiras
Mas distâncias eu transponho no que sei fluir
Caudaloso de emoções que não se represam
Tão abundante dessas palavras cristalinas
Mas barrento de pensamentos tão infames
Não sei ser rio, não sou, não posso, não quero
Lete, rio do esquecimento, vem e banha-me
Livra-me de Aqueronte, torrente de dores
Erídano, Cócito, lava-me das lamentações
Ou deixa corroer o fogo intenso de Flegetonte
Lembrar dessas dores é tudo o que não espero
Quero a imortalidade de Estige, vem e banha-me
Quero esquecer eternamente que há amores
Afogar-me nos rios caudalosos dessas emoções
Vejo vir ao longe, vagarosamente, Caronte
Sua barca infausta que emerge do inferno
Érebo, a noite eterna e tenebrosa do Hades
Onde morrem as águas do rio que não sou
 
Vejo-te tão próxima da margem
Agora me faço de novo um rio
E minhas águas são todos os desejos
Beijam-te os pés, as mãos, os seios
E mergulhas agora em águas tão tuas
E quando estiveres imersa em mim
Será em ti que haverei de morrer
No prazer do banho, banho-me de prazer
E enquanto os corpos dormem molhados
Nossas almas eternas passeiam nuas...

 
(Poesia On Line, em 01/09/2010)
Marcos Lizardo
Enviado por Marcos Lizardo em 01/09/2010
Reeditado em 04/08/2021
Código do texto: T2472438
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