OUSAMOS FINGIR
Às manhãs
estarei à porta
fingindo esperas.
Finge também
que erraste de porta.
Farei de contas
que acreditarei
e mentirei
dizendo que estava
de saída.
Se quiseres
puxa uma conversa
sobre o que te vier
na cabeça.
Não saberei bem
se eu confirmarei
a minha saída
ou te convidarei
para entrar.
Mas, terei um café
na mesa
com duas xícaras:
uma para mim,
outra, que costumo
colocar de reserva.
Velho hábito!
Às tardes,
se vieres,
mesmo que clara de sol
fica na tua
e prenuncia
que poderá chover.
Também acho que irá
só para fluir
a nossa conversa.
Inventa uma amiga
que mora no andar
ou, se ao perguntar
o número da porta,
não importa!
Imagina um
mesmo que não exista!
Não saberei dele
nem no qual moro.
Afinal, fingimos tanto
apesar de amarmos.
O amor é uma delinqüência
sem a qual
não há perduração.
Convida-te para entrar!
É preciso ousadia
e de um certo desrespeito
às etiquetas
e aos costumes.
Bem sabes que eu saberei
da tua intenção
e tu, da minha.
Mas, fingir é bom.
Eu me farei tímido
e firmarei a maçaneta
para que a porta
se escancare.
A essas alturas,
se choveu ou não
e a tarde já se foi,
será bom ficar.
Sabes que às noites,
certos perigos
circulam nas ruas
e é bom prevenir.
Se o medo te importar
adentra essa porta
sem eu convidar.
Fingirei esperas.
Fingirás chegadas.
Fingiremos permanências.
A vida é triste
sem ilusões
e o amor se fomenta
de frustrações.