OUSAMOS FINGIR

Às manhãs

estarei à porta

fingindo esperas.

Finge também

que erraste de porta.

Farei de contas

que acreditarei

e mentirei

dizendo que estava

de saída.

Se quiseres

puxa uma conversa

sobre o que te vier

na cabeça.

Não saberei bem

se eu confirmarei

a minha saída

ou te convidarei

para entrar.

Mas, terei um café

na mesa

com duas xícaras:

uma para mim,

outra, que costumo

colocar de reserva.

Velho hábito!

Às tardes,

se vieres,

mesmo que clara de sol

fica na tua

e prenuncia

que poderá chover.

Também acho que irá

só para fluir

a nossa conversa.

Inventa uma amiga

que mora no andar

ou, se ao perguntar

o número da porta,

não importa!

Imagina um

mesmo que não exista!

Não saberei dele

nem no qual moro.

Afinal, fingimos tanto

apesar de amarmos.

O amor é uma delinqüência

sem a qual

não há perduração.

Convida-te para entrar!

É preciso ousadia

e de um certo desrespeito

às etiquetas

e aos costumes.

Bem sabes que eu saberei

da tua intenção

e tu, da minha.

Mas, fingir é bom.

Eu me farei tímido

e firmarei a maçaneta

para que a porta

se escancare.

A essas alturas,

se choveu ou não

e a tarde já se foi,

será bom ficar.

Sabes que às noites,

certos perigos

circulam nas ruas

e é bom prevenir.

Se o medo te importar

adentra essa porta

sem eu convidar.

Fingirei esperas.

Fingirás chegadas.

Fingiremos permanências.

A vida é triste

sem ilusões

e o amor se fomenta

de frustrações.

Vilmar Daufenbach
Enviado por Vilmar Daufenbach em 01/09/2010
Reeditado em 20/10/2010
Código do texto: T2471583