VENTOS DE JUNHO
José António Gonçalves
Os ventos de Junho
trouxeram o prenúncio
da sede. Azul
o céu da tua boca húmida
chegou a tempo de acordar
o júbilo
que já silenciava. Quem
era o cavaleiro perdendo-se
na distância
ninguém sabia. Acho
que fora acabado de inventar
para levar a boa nova
até ao ano novo,
desimportado já do ano velho.
Eu pensava em azul
e no regalo
do banho nos teus lábios
quando em delírio
vi-te com o rosto todo
no reflexo do espelho
que trazias nas mãos.
Mas calei-me. Tornaste-te
a partir daí na avezinha matinal
que me visita à janela
só para me despertar para a vida
com cânticos de natal.
Ao longe, no galope
do cavaleiro, seguem os ventos
de Junho,
levando ao futuro a loucura
já escrita
de um encantado
colírio
e dos seus intentos.
José António Gonçalves
(Inédito 31.12.04)
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