O Bebedor de Absinto

Uma lua branca na noite negra,

A se erguer neste pasmado painel.

Só as coisas estão a minha volta,

A terra é o inferno que chamam de céu.

Sozinho eu bebo o meu verde absinto.

Mentira é dizer que eu não minto,

Já a imaginar enormes torres de ferro,

Escrevo como quem tem febre.

Em cima da mesa está o preto tinteiro,

E a janela está aberta para a rua.

Em sonhos bêbados vejo uma virgem nua,

E ela corre entre os coqueiros.

Sou bebedor de absinto há tempos,

Há tempos a minha lira só sabe delírios,

Como quem vê as cores nos ventos,

Ou como quem come uma flor de lírio.

Alves Rosa
Enviado por Alves Rosa em 30/08/2010
Reeditado em 30/08/2010
Código do texto: T2468848