Carta de um suícida.
Deixo esta carta sem destinatário, para que, se for achado, este meu corpo putrefato, não haja a piedade, já que agora morto não me anima ter, o que em vida, não me fora oferecido.
Corto os pulsos, não por causa de um grande amor, embora eu o tenha tido, e nele, a calma que agora já me é esquecida. Faço-o porque estes meus pulsos já se encontram cansados demais para qualquer luta, como também as minhas vísceras, que falham e já na medicina não há lenitivos.
Não havendo para quem deixar este meu escrito mortuário, e condenado ao cárcere da solidão em meu último leito; já me agoniza a alma nesta minha triste sorte. Tenho apenas nestes cortes, por lembrança as degradações do meu caráter e a solidão de minha história mitigada.
Afirmo que não há culpados, neste gesto extremo, em remir aquilo que eu chamei de vida. Decidi findar os meus dias, já que coléricos, se assemelhavam a noites e eram frios, como um inverno rigoroso, congelando sempre meu olhar na mesma tristeza.
Deixo sobre a mesa, documentos que provam minha existência, apenas para que saibam, o quão indigente tornou-se a minha face.
Rogo que em minha lápide haja apenas a data de meu nascimento, pois a data da partida, eu não me dei conta de anotar, sei apenas, que me parecia eternidade cada dia que vivi morrendo.