[Sensível à Luz]
Às vezes, penso que a poesia é feito um cavo estrondo vindo de uma cachoeira perdida em escuras matas habitadas por mágicas divindades - destas ocultas regiões, trescala uma música colorida, aromática, e por vezes, almiscarada, rica em fetiches...
Nasce pois, das ocultezas do ser, e por um impulso de intensidade incomensurável, e chega aos ouvidos da alma de quem ouve vozes estranhas, e que, por uma razão ainda mais misteriosa que a origem do impulso, tem a missão de escrever... ou, se visto de outro modo, o vício... O ato de escrever inexplica-se por si só: quem escreve, escreve; e quem não escreve, não escreve - simples assim! Escrever é apenas um tratamento barato para alguma loucura...
A poesia, contudo, é sensível à luz: transmuta-se diante de olhos interrogantes... refunde-se em sentidos inesperados, ganha asas no céu das imaginações.
[Penas do Desterro, 29 de agosto de 2010]