O CANTO DO ABISMO
...E canta a Sereia.
Voz metalizada,
A melíflua fada
Circula na veia...
Canta, encanta e mata
O possível. Leva
Para a Luz na Treva
E o corpo arrebata.
O todo fragmenta.
O eu n’ outro se cola
E tudo vira uma bola.
O eu no ele fermenta...
A Sereia canta
Líquida canção,
Voz no coração
Que a todos imanta.
Morre o previsível
Pois Abismo chama,
E o homem se descama
Ante o incognoscível...
E tudo então vira
Cadáver sem osso,
Morte sem destroço.
O eu no Abismo gira
Morrendo e vivendo,
Entre um existir
E um grande porvir
No sendo e não sendo.