Receita para se fazer um feitiço poético: em dez passos.
1º passo:
misture um punhado de metáforas
com uma pitada de poesia
depois acrescente meia dúzia de imagens
retiradas de uma gramática formal
....................................................................
2º passo:
num recipiente em separado refogue
até dourar:
duas reticências,
três interrogações,
quatro parênteses colocados entre aspas,
um verbo intransitivo,
um sujeito lírico,
e uma boa quantidade de liberdade poética
.......................................................................
3º passo:
amasse num pilão de letras
uma rima de lugar,
um compasso singular,
um tempo a calcular,
e o eco de uma palavra
... depois
leve tudo isso ao fogo fátuo
de uma língua morta
e deixe ferver por uns cinco minutos
mexendo até engrossar o caldo
.........................................................................
4º passo:
para dar um gosto especial
acrescente um pouco de métrica parnasiana
juntamente com o formalismo clássico do século XV
ao tempo inexato do verso livre;
mas não deixe de enrolar no simbolismo arcaico
umas folhas da Rosa do Povo
(tudo isso previamente temperado
com o modernismo pós-vanguarda
de Oswald de Andrade)
..........................................................................
5º passo:
corte em picadinho toda estética da recepção
e misture aos pedacinhos
o pó da poética pré-pós-new moderna
de Arnaldo Antunes
.............................................................................
6º passo:
agora misture tudo isso num caldeirão de palavras
e leve ao forno da língua
(pré-aquecido em 360º)
até que o verso escondido nas letras
possa, enfim, se mostrar poema
.............................................................................
7º passo:
arrume tudo isso numa folha de papel
extra-virgem
decorando com pequeninas bolhas de sabão;
em seguida
prepare um refratário untado com substantivos concretos
e deixe que o tempo
(o compasso discreto de um soneto)
determine a forma final
.....................................................................................
8º passo:
para que este feitiço possa surtir o efeito esperado
é preciso não deixar de acrescentar
ao produto final:
olhos de ratos metafísicos.
teias de aranhas imaginárias,
dentes de lagartos metafóricos,
fígados de metonímias embriagadas,
carcaças de linguagens virtuais,
gotas de orvalhos virgens
e olhos de corujas empalhadas,
além, é claro, de imaginação a gosto
.................................................................................
9º passo:
depois de coar tudo
com a peneira fina da memória
divida o conteúdo em quatorze generosas porções
e enterre no quintal da sua língua materna
por dez longos anos
(e aquilo que for conservado em forma de verso e ritmo
deverá ser servido ao público homeopaticamente)
...............................................................................
10º passo:
acrescente ao feitiço gotas de inspiração divina
asas de anjos cristalinos feitos de verso e rima,
e uma nota de música sacra
depois sirva tudo isso em uma palavra poética
na forma de verso livre
ou soneto.
1º passo:
misture um punhado de metáforas
com uma pitada de poesia
depois acrescente meia dúzia de imagens
retiradas de uma gramática formal
....................................................................
2º passo:
num recipiente em separado refogue
até dourar:
duas reticências,
três interrogações,
quatro parênteses colocados entre aspas,
um verbo intransitivo,
um sujeito lírico,
e uma boa quantidade de liberdade poética
.......................................................................
3º passo:
amasse num pilão de letras
uma rima de lugar,
um compasso singular,
um tempo a calcular,
e o eco de uma palavra
... depois
leve tudo isso ao fogo fátuo
de uma língua morta
e deixe ferver por uns cinco minutos
mexendo até engrossar o caldo
.........................................................................
4º passo:
para dar um gosto especial
acrescente um pouco de métrica parnasiana
juntamente com o formalismo clássico do século XV
ao tempo inexato do verso livre;
mas não deixe de enrolar no simbolismo arcaico
umas folhas da Rosa do Povo
(tudo isso previamente temperado
com o modernismo pós-vanguarda
de Oswald de Andrade)
..........................................................................
5º passo:
corte em picadinho toda estética da recepção
e misture aos pedacinhos
o pó da poética pré-pós-new moderna
de Arnaldo Antunes
.............................................................................
6º passo:
agora misture tudo isso num caldeirão de palavras
e leve ao forno da língua
(pré-aquecido em 360º)
até que o verso escondido nas letras
possa, enfim, se mostrar poema
.............................................................................
7º passo:
arrume tudo isso numa folha de papel
extra-virgem
decorando com pequeninas bolhas de sabão;
em seguida
prepare um refratário untado com substantivos concretos
e deixe que o tempo
(o compasso discreto de um soneto)
determine a forma final
.....................................................................................
8º passo:
para que este feitiço possa surtir o efeito esperado
é preciso não deixar de acrescentar
ao produto final:
olhos de ratos metafísicos.
teias de aranhas imaginárias,
dentes de lagartos metafóricos,
fígados de metonímias embriagadas,
carcaças de linguagens virtuais,
gotas de orvalhos virgens
e olhos de corujas empalhadas,
além, é claro, de imaginação a gosto
.................................................................................
9º passo:
depois de coar tudo
com a peneira fina da memória
divida o conteúdo em quatorze generosas porções
e enterre no quintal da sua língua materna
por dez longos anos
(e aquilo que for conservado em forma de verso e ritmo
deverá ser servido ao público homeopaticamente)
...............................................................................
10º passo:
acrescente ao feitiço gotas de inspiração divina
asas de anjos cristalinos feitos de verso e rima,
e uma nota de música sacra
depois sirva tudo isso em uma palavra poética
na forma de verso livre
ou soneto.