[As Minhas Águas]
[De Minas — de nascentes no Planalto Central do Brasil — vêm estas águas!]
O meu tempo: os murmúrios do meu rio!
De que matéria é a minha nave, afinal,
e de onde vêm estas águas que me viajam?
Ah, por que a sina de curtir estas fráguas!?
Meus olhos cansados anseiam por um sono,
quero viajar nas águas remansosas do sonho,
quero voltar ao meu quintal mágico
onde principiei a inventar meu mundo,
e de novo sentir em meus dedos a suavidade
da mecha da loirice da primeira namorada;
quero voltar ao jardim onde brotou
o viço esplendoroso da minha alegria juvenil!
Quero rever no brilho rutilante das jabuticabas
a minha inocência quebrada pela lúbrica visão
que eu roubei pela fresta de um portão entreaberto:
o triângulo escuro daquela linda mulher
que, naquela tarde calorenta do Planalto Central,
banhava-se no quintal da Casa das Mulheres-da-Vida;
qual vida, a delas, a minha, a de todos?! A minha perdeu-se...
Ah, estas penas — a minha nave viaja nestas águas!
[... E segue o murmurante rio que me leva,
corre célere para desaguar no Rio Estige]
[Penas do Desterro, 24 de abril de 1999]
[Poema extraído do meu Caderno 1]
[Penas do Desterro, 24 de abril de 1999]
[... excerto do meu Caderno 1]