EM “QUADRAS”, O MEU “QUADRO”

Eu vivia em minha terra

Já pouco mais que menino

Vencendo a planície e a serra

Acertando o meu destino

Assim entrei para a vida

Sabendo que, a duras penas

Entrava numa corrida

A onde corriam centenas

O de que mais precisei

Foi de ânimo e coragem

Pois muitos espinhos encontrei

Nessa penosa viagem

Fui bravo vaqueiro

Criei boi e fui lavrador

Enchi de arroz o celeiro

Mas sempre fui sonhador

Furei o chão, busquei água

Para a minha sede matar

Quanta dor e quanta mágoa

Por não ter conseguido achar

Domei animais bravos

E muitas cobras matei

Tive dias bem sombrios

E prazeres noutros gozei

Estudando quis ser doutor

Jornalista sem paixão

Também quis ser delegado

Mas não conseguir profissão

Hoje o que me resta

É ser poeta e escritor

Mas sempre tive na mente

O que meu pai me ensinou

Que em tudo fosse prudente

Pois ele o foi, e ganhou

Prudência, às vezes, porém

Traduz uma covardia

Porquanto, é certo, ninguém

Pode fugir a porfia

Há lutas de toda a sorte

Com razão ou desmedida

Há luta de todo o porte

Luta que mata e dá vida.

O riso é, pois necessário

Á solução da contenda

Todos têm o seu destino

Que a natureza desvenda

Eu não digo o que não sinto

E de tudo dou as provas

Não exagero, nem minto

Quando escrevo as minhas trovas.

O passarinho se oculta

Com medo do gavião

E às vezes sepulta

Segredos do coração

Se muito amei fui amado

Se muito quis, fui querido

Se pequei, o meu pecado

Foi sempre de amor ungindo

Por isso é que eu canto

Tangendo as cordas da lira

E se, acaso, vem o pranto

A fé os efeitos tira

É que Deu jamais falhou

E o meu Santo poderoso

Consulta-o sempre que dou

Algum passo perigoso

E assim a certa idade eu chego

De espírito levantado

Eis que o meu maior apego

Foi sempre o bem sublimado

Ajudei a muita gente

Que a mim depois esqueceu

Mas, perdôo, sinceramente

Mesmo até quem me ofendeu.

É que em minha consciência

Eu gravei como lição

Não alcançar consistência

Ódio algum no coração.