Eu ainda queria, e queria muito
Ao menos roçar as migalhas
Do que fomos e do que nem fomos.
Um cheiro que fosse do que fomos nós...
Mas deixa, que não sei ser somente isso
E o que mais sei é saber de quase tudo
Queria a cena das fotos, que fosse isso
Queria a a força das palavras voltando
Aquela noite plena dos corpos
Queria viver sem estar sonhando
Queria matar essas palavras todas
Queria esquecer esse verso que vem
Queria varrer da vida toda a poesia
Ela me atormenta com o que não morre
Ela me tortura com tudo que traz de volta
Ela me mata em cada verso angustiante
Queria tudo como antes, antes do antes
Antes que eu atinja os esquecimentos

Queria voltar o tempo atrás
Que não volta, eu sei, mas queria
Queria ter parado o tempo antes
Antes de o tempo consumir esses instantes
Queria não errar tanto assim nunca mais
Mesmo que não saiba onde é que eu errei

Não me olhe, não me ouça, não me lembre
Não me eternize tanto nessa indiferença
Não me chame, não me queira, não me ame
Não me diga nada como nada disse antes
Não me pense e nem pense em me pensar
Que guardei em lugar oculto teu último ato
Teu derradeiro pensamento e a emoção dele
E guardar tem doído tanto aqui no meu peito

Esqueça, então, tudo o que não se refaz
Seja por que não se quer ou não se pode
E foge desse meu pensamento que te encontra
Aqui nessa silenciosa angústia da noite a passar
Foge de eu ainda tentar te buscar lá no fundo
Do tempo, da lembrança, do desejo, da esperança
Foge para o ermo da distância, que eu entendo
E deixa que eu me desentenda com esse entender
Que parece não ser mais capaz de te encontrar...
Marcos Lizardo
Enviado por Marcos Lizardo em 25/08/2010
Reeditado em 04/08/2021
Código do texto: T2459628
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