Poesia da lua

Houve um tempo muito distante

Em que o céu era claro e límpido.

Da lua jorrava poesia

Refletindo em lagos e mares

Exalando de meigas virgens

Cobrindo campos e pastagens

Transbordando por toda a Terra.

Nesse tempo remoto e doce

Em que a poesia transbordante

Ameaçava inundar a Terra

Era necessário contê-la

Amarrando-a entre rimas

Cerceando-a entre métricas

Prendendo-a entre mil normas.

Mas então se encobriu o céu

De fumaça letal e densa

E a poesia vinda da lua

Desapareceu, simplesmente.

Não eram tempos de miséria

Nem havia fome na época

Havia até muita comida.

Não eram tempos mais sangrentos

Que os de outras tantas batalhas

Havia de tudo um pouquinho

Só não havia mais poesia

Que aos poucos definhou, secou

Morreu.