[Que o meu Corpo...]
... encontre paz, se puder!
Não é vingança tola não
- a tanto eu não chego,
quem sou eu, afinal,
para vingar-me... do meu corpo?!
Estúrdia cogitação!
Mas o caso é que,
para meu desgosto,
o meu corpo está judiando de mim,
e até parece que faz vésperas
de me abandonar — pode?!
Admito que eu o tenho maltratado,
extravagâncias, parcas horas de sono,
sede... até sede ele tem passado!
E isto, para não falar em amor, sexo...
Ah, que judiação ele tem passado!
Vai ver é por isto que ando
com sensação de esvaimento,
de trem sem rumo saindo da Estação...
Estação? Pode ser parte do problema,
tenho estado demais, demais...
O movimento é que é a vida do corpo!
Como nunca estou certo do que digo,
pois o pensamente é errático mesmo,
paro aqui... e só fico mesmo
torcendo por mim... que eu dê
ao corpo o que ele pede, implora até:
madrugada afora, o amor, os cheiros bons,
excitantes almíscares sutis... vinho bom...
e depois de tudo, na manhã clara, entrelace de mãos
cheias de amor, sobre a toalha branca
daquela mesa de café, posta na varanda...
Ah, corpo, não parta de mim,
não parta, corpo — que eu me emendo, viu?
[Penas do Desterro, madrugada de 25 de agosto 2010]