[Sem Vestígios]
Vagueza... vagueza de dizer...
O que há de mais pleno em nossas mentes,
e não damos conta de falar?
Deveríamos contar tudo, contar tudo sim,
como se não soubéssemos dos fatos,
como se estivéssemos inseguros do que dizemos
[... e estamos?],
como se estivéssemos a narrar um sonho,
no vero instante em que ele vai se dissipar,
escapar para sempre, do visor de nossos olhos.
Afastemo-nos um pouco,
o suficiente para que caibamos inteiros
no campo do olhar prestes a se extinguir,
como uma fotografia de corpo inteiro.
Último olhar, e depois, último relance
pela fresta da porta a se fechar...
Afastemo-nos, assim quer a vida.
E quanto nos afastarmos de vez,
que seja sem digitais... sem pegadas.
Já basta o renovo da dor de partir;
sem digitais, por tanto,
sem vestígios da passagem, do estar!
Pode ser? Quem sabe?
Que a bagagem nos seja leve,
eis o que podemos almejar.
[Penas do Desterro, 25 de agosto de 2010]