O que se faz passar por Deus
Todo homem;
toda mulher; tem
uma tendência para o bem;
uma vacância para o mal.
Uma lacuna para a orgia;
um sacerdócio para o altar.
É disso que se arma o demônio para fazer
do nosso pobre coração um promotor
que acuse intrépido ao Criador.
De tudo o que nos vem de mal
do além da conta e de todo o sofrimento
deposto da razão,
acusamos sem defesa,
Àquele que não é se não amor.
A luz, porém, ilumina.
Incendeia a vida, a esperança,
o ser criança, o renascer.
A verdade é o bem
que nada tem de obscuro,
de escondido atrás do muro,
de maldade disfarçada numa flor.
Por herança, tem o filho
qual seja o dote, vale menos que um vintém.
O bem maior, porém, é aquele bem
que usina a gusa, produz milhares;
qual sementeira e seus milagres,
no dia, na noite, no amanhecer.
Do enviado, amado de Deus,
escola dos homens,
não sai virtude ao toque
se aquele que toca não crê que Ele é.
As tristezas, as dores, pesares e mágoas
insupotavelmente sustentadas,
os suores sem prosperidade,
não haverão de desvanecer-se ao lamento
se quem os tem, os atribuem a Deus.
Tomar a cruz é persistir no amor.
É resistir aos pesares, é pedir perdão.
Ela não vem de Deus; vem antes,
daquele que se faz passar por Ele.
Viesse Dele, por que daria Seu filho unigênito
para carregar aquela que pesava a dor
de toda a humanidade?
Fosse Ele o causador
de um coração despedaçado,
por que inspiraria o próprio, durante o sono,
fazendo-o amanhecer tão cheio de esperança?