Teatro da Vida
Nunca foi do meu feitio explicar de onde vem o que escrevo, mas devo dizer que "redescobri" um amigo, alguém que me lembra muito "eu mesmo", em outra dimensão desta vida. Um texto dele, "Teatro dos Sonhos", que pode ser lido em http://paulnuernberg.blogspot.com, me fez pensar sobre o que seria um teatro da minha própria vida. Depois de ter digerido cada linha do texto do meu amigo em questão, espremi o néctar dos meus sentimentos naquele momento e foi o texto que coloco abaixo que saiu. Lembranças ao amigo Paul.
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Papel na mesa, caneta na mão esquerda
O punho direito, calejado, segura meu rosto
Cotovelo mantém o sistema no lugar
Passo a transcrever a mim mesmo
Ponho meu retrato na janela
A quem passando quiser olhar
Não digo coisas belas, mas reais
Apresento espectativas e memórias
Dispenso enredos teatrais
Talvez ninguém se interesse em minhas histórias
No pão que o diabo amassou,
Passei manteiga e taquei queijo
Quando vi que o cão não gostou,
Sorri pra ele e mandei beijo
Construí castelos de pedra
E cavei buracos profundos
No rio da vida, fui contra a regra
Boiei mesmo pesado, sem nunca tocar o fundo
Fui taxado de louco, apaixonado
Sonhador, burro, delinqüente, safado
Vira-lata, fraco, viajante, bastardo
Mas cruzei um deserto e descansei sobre o fardo
Ainda miro uma longa caminhada
Milhas, trilhas, quadrilhas, qüinquilhas!
Trabalhei toda essa noite enluarada
Fortalecido, na memória, minha filha
Ela sim, só me dá gosto
Vale cada segundo da tortura
Deixo meu peito aberto, exposto
E regurgito qualquer traço de amargura
Se o queixo bate, mordo
Se a vista inunda, seco
Já não me sinto mais morto
Nem choro olhando pro teto
Sangrei vários litros, mas nenhum pingo a esmo
E do que passei, só Deus e eu de testemunhas
Sei que estas linhas, um ou dois vão ler mesmo
Mas gravei as marcas dos meus dentes e das minhas unhas.