Permissão
Permito a invasão da tua imagem
Audaciosa, a adentrar a existência
De um mundo quieto de palavras;
A sua presença e transparência
Feita revelação e segredo.
Emoção vagando em degredo;
Desejo construído em miragem.
Permito a insolência dos teus gestos
A roubar a paz do meu silêncio;
A soprar os ventos de voragem
Onde havia estática paisagem,
Prosaicos sentimentos manifestos;
A trazer tornados e viração
Onde havia plácida ordenação.
Permito-me mirar caudalosamente
Essa tua imagem fugaz, indiferente,
Sem rastros, descuidada, veloz;
Desastre e paraíso, se os dois
Pudessem ser só um, e depois
Findassem, à luz dos arrebóis.