Permissão

Permito a invasão da tua imagem

Audaciosa, a adentrar a existência

De um mundo quieto de palavras;

A sua presença e transparência

Feita revelação e segredo.

Emoção vagando em degredo;

Desejo construído em miragem.

Permito a insolência dos teus gestos

A roubar a paz do meu silêncio;

A soprar os ventos de voragem

Onde havia estática paisagem,

Prosaicos sentimentos manifestos;

A trazer tornados e viração

Onde havia plácida ordenação.

Permito-me mirar caudalosamente

Essa tua imagem fugaz, indiferente,

Sem rastros, descuidada, veloz;

Desastre e paraíso, se os dois

Pudessem ser só um, e depois

Findassem, à luz dos arrebóis.

Shirley Carreira
Enviado por Shirley Carreira em 22/08/2010
Reeditado em 22/08/2010
Código do texto: T2453148
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