TROPEL DAS PROCISSÕES...
“A viagem só é necessária para as imaginações curtas.”
Collete, Sidonie
A minha alma
de vez em quando
deve bailar em Portugal.
Deve, num fado
de Amália Rodrigues
entornar lágrimas nos solos de Mouraria!
Deve, na dolência
e na melancolia dos acasos
armazenar a dor e trazer consigo.
Do encanto e da beleza de Portugal
traz somente uma vaga e fatal lembrança
para mais torturar a minha memória ancestral!
A minha alma
quando chega a Portugal
dança, também, o vira e o corridinho.
Mas, ela se deleita mesmo
é com o som da guitarra portuguesa
chorando num autêntico fado da terrinha!
A minha alma chega a Lisboa,
depois, a Porto e a Aveiro,
a Veneza dos Portugueses.
em Coimbra se deleita e se encontra;
se ajeita, se torna uma alma portuguesa...
Se esquecendo que tem no Brasil um corpo bem brasileiro!
A minha alma, em Portugal
torna-se uma alma mais católica.
Deve ser à força do Santuário de Fátima
com a Capelinha das Aparições é que lhe dobra.
Mas, suspeito que ela busque, de fato, seja se fartar
de Luis Camões, Fernando Pessoa e seus heterônimos!
A minha alma, além de se saciar de fado,
beberica o bom vinho do Douro e do Alentejo.
Depois os peixes e mariscos, o pastel e o Bacalhau!
Depois ela retorna. E eu sei que já vivi em Portugal.
Noutros tempos, em outras eras. Mas, me é tudo tão
familiar. Chego a ver os rouxinóis a cantar pelos beirais!
Pelos beirais de Mouraria...
Espantados pelo tropel das procissões
e pelos xales coloridos a rodopiarem pelos becos.
Ah! Deus, esta minha alma... Minha alma portuguesa!
Apaixonada pela voz e pelo fado de Amália Rodrigues,
pela canção do mar; do mar de sal do meu doce Portugal!