Sou
somos mesmo filhos
do absurdo, irmaos da ausencia
somos todos e não fomos ninguém
e quanto a mim aindo permaneço
e depois me afogam no entardecer
permaneço inconstante e improvavel
passo e ao passar permaneço
impermeavel enquanto chove
partes do meu eu azul
sou filho do violão desafinado
irmao do vento
que leva tudo sem nada levantar
sou o verão da ausência
e sobre a relva fui cuidado
sou sobrinho da fuligem
e as vezes me dizem que eu fujo
a falta de algo que me faça falta
mesmo pobre
é minha herança
sou aquele que voce viu
e ao ver esqueçeu
você me recorda
que eu nunca fui o que eu quis ser
e assim sendo fui outra coisa
ainda mais bela no não-ser
não fui de carne
nem da ausencia ja citada
fui de melodia liquida
e da poesia inabitada
e ainda insisti em dizer o que eu sou
é o que eu não sou que te agrada
eu era o novo e antes o velho e antes ainda um bebê
e agora que eu me encontro faço parte do tudo
mesmo não sendo nada
e saber que amanhece
minha mãe
e depois dela ainda ela
que é para criar
algo que eu ainda não era
somos mesmos todos
crianças atônitas
somos isso ao menos eu
nunca fui de ser matéria atômica
sou o que fui
sou o vir a ser....