IMBONDEIRO
O velho imbondeiro
de pele enrugada
despiu a folhagem.
O sol não abrasa
passou a estiagem.
O velho imbondeiro
tem os pés gelados
(e eu também os tenho)
Inverno em Angola
calor noutros lados.
O velho imbondeiro
deixou a roupagem
porque não o aquece.
Melhor ficar nu,
a sombra arrefece.
O imbondeiro velho
de porte gigante
de corpo entroncado
encrespando os dedos
esguios e magros
pede ao sol que o beije
e lhe dê alento
lhe console as penas
em manhãs serenas.
* * *
Escrito em Angola,
viajando de Lobito para Cubal,
de machimbombo,
em Junho de 1970.
Leiria, Portugal