construçao

É interessante como vou construindo meu dia

Se é que faço algo

O sono é minha gravidez

Com toda sua miséria

O parto ao acordar

Com toda a sua dor

E dou a luz a mim mesmo

E de ventre surjo

Rasgando meu próprio ventre

Choro da dor de nascer

Choro da dor de parir

Refaço meu corpo ensangüentado do parto

Mas já pronto da responsabilidade

Arrasto-o pelas quebras de paredes afora

Chamadas portas

Saio do mundo chamado casa

E entro no mundo chamado mundo

Neste instante perco meus maus sentidos

E começo a viver os alheios

Vivo de permeio às ansiedades alheias

A mim misturo ao fel do mundo

E em fel me torno

Vou pelo resto de meu dia

A tentar mitigar nossas vidas

Sem alcançar o intento

Nem sei se tento

O dia termina comigo

Volto ao lugar chamado lar

Transpasso as rachas

E me desfaço em doce fel

Em pura proteção do que restou de mim

E quando me enxergo estou prenhe novamente

Fabio Damico
Enviado por Fabio Damico em 20/09/2006
Código do texto: T244731