construçao
É interessante como vou construindo meu dia
Se é que faço algo
O sono é minha gravidez
Com toda sua miséria
O parto ao acordar
Com toda a sua dor
E dou a luz a mim mesmo
E de ventre surjo
Rasgando meu próprio ventre
Choro da dor de nascer
Choro da dor de parir
Refaço meu corpo ensangüentado do parto
Mas já pronto da responsabilidade
Arrasto-o pelas quebras de paredes afora
Chamadas portas
Saio do mundo chamado casa
E entro no mundo chamado mundo
Neste instante perco meus maus sentidos
E começo a viver os alheios
Vivo de permeio às ansiedades alheias
A mim misturo ao fel do mundo
E em fel me torno
Vou pelo resto de meu dia
A tentar mitigar nossas vidas
Sem alcançar o intento
Nem sei se tento
O dia termina comigo
Volto ao lugar chamado lar
Transpasso as rachas
E me desfaço em doce fel
Em pura proteção do que restou de mim
E quando me enxergo estou prenhe novamente