No Smoke.

Não cabem palavras

Mistérios habitam o insondável

Somando sal a nossas substancias

Egoísmos disfarçam afetos

E o amor aceita coadjuvantes.

Não cabem palavras

A vida segue redundando

Numa sucessão de eventos,

Eventualmente vivemos.

Não cabem palavras

Senão para dar forma aos medos

Alinhar horrores a esta solidão

Do útero a cova

O silencio preenche os vazios

Com significados limitados

E a imaginação é o refúgio possível.

Não cabem palavras

Para descrever o que já existe

Poetas reformam o significado das coisas

Colorindo de esperança o amor pós-moderno

A esperança é a fortaleza dos covardes

O amor esvai na depressão pós tudo

Não cabem palavras

E a fumaça do cigarro incomoda.

Não cabem palavras

Mesmo diante do estupor

Que ajusta tudo em átomos e partículas

Tornando nossa fábula politeísta

Em contos da carochinha

Que valem palavras

Quando todo o espanto se perde no vazio cotidiano

Ao custo do êxtase, diariamente,

Títere aprisionado ao êxtase;

Justificativa e fim.

Palavras enfim no poema árido

Composto dos retalhos do nexo

Dos confins, dos estilhaços

De um desespero qualquer.