CHUVA INTERMINÁVEL
O aguaceiro, medroso e triste,
sofre como um menino,
que antes de tocar a terra
morre.
Quieto o arvoredo, quieto o vento,
em silêncio tremendo,
e este fino e amargo pranto
caindo!
O céu é como um imenso
coração aberto e triste.
Chove: um sangrar lento
e intenso.
Dentro de casa, os homens
não sentem a amargura,
esse cair de água insistente
que vem das alturas.
Esse longo e cansativo
parto de água expiradas,
lavando a Terra
indefinidamente
Essa chuva..., bicho agourento,
à noite assombra na serra.
Insurgindo-se das sombras
da terra?
Você dorme, mas lá fora
cai, sofridamente, inerte, o aguaceiro
esta água letal, irmã
da morte?
...
La Lluvia Lenta, poesia de Gabriela Mistral, versão Célio Pires.