FUNERAL

Derramem sobre minha pele

um jarro de perfume suave

e esperem a noite chegar.

Durante a noite enfeitem

o meu corpo com tintas claras;

o leito de morte

com as flores mais meninas,

fecundadas em afetuosos toques

pelo vento brejeiro,

cuja gentileza se fez semeadura

por entre meus cabelos

e cuja brandura,

obrigação cotidiana nossa,

amantes que fomos.

Deitem minha carne na jangada.

Estarei então pronto. Ateiem-me fogo.

Aquecido partirei

nos curtos braços do amor.

Com meu corpo em chamas

descerei a correnteza do rio até me consumar.