De regresso ao mar (fim)
Tanto sol, todo o sal,
infernos passados, invernos rigorosos
nesta barcaça rangendo sem rumo empurrada por vento suave,
breve,
nas tranquilas ondas de mar parado, sem movimento,
sonolência embriagante baloiçando,
olhando as gaivotas flutuando avistou terra,
refreada ânsia desta visão fantasmagórica, esquecida,
no leme, sonhou então
com as estrelas cadentes cruzando o céu escuro,
nos golfinhos saltando à proa em piruetas loucas,
o tubarão, rei dos mares perigosos, bem perto, majestoso,
silencioso,
baleias dançando à superfície como borboletas azuis,
depressa lançou âncora enferrujada borda fora,
mergulhando na areia branca luzidia, que beijou
acariciando as conchas encalhadas.
Imaginou a sua deusa, olhos brilhantes bem abertos,
esperando frases adiadas,
essas poucas palavras de amor
promessas refugiadas nessa estranha sensação
sempre adiada, perdida mesmo
no relembrar desse mar, início de tudo,
suspiro desfeito por tsunamis da alma, ondas gigantes,
então,
regressou ao colo perfumado
jamais esquecido no esquecimento da saudade,
finalmente,
descansou