SEBO
Distante dos momentos de delírio
não vejo a vida com grande tesão.
Coço os olhos, meus cílios,
e meus olhos ficam vermelhos.
Sinto fome, andei pela cidade...
e agora lhe assisto passar pela janela.
Distante dos momentos de delírio
a vida me parece torpe.
Sem qualquer fingimento,
me sinto desesperado, desesperado...
A qualquer momento serei,
em qualquer instante teria estado...
Passado, definição do presente.
Nostalgia: arqueologia do meu ser;
que tenho eu de mim?
Como me dizer eu sem os outros?
Como contar minha fronteira?
minha inteligência? meu mérito?...
Distante dos momentos de delírio,
a vida é um mero meio...
Incômoda praxe metodológica.
Anda-se apesar da sobriedade.
movo-me sempre pela necessidade
de alguma próxima embriaguez.
Como círculos de raios diversos
cuja volta é um ciclo de satisfação.
Saciado, ainda há outras fomes,
além daquela mesma, que recomeça.
O maior dos círculos, entretanto,
não sei, mas acho que não existe.
Distante dos momentos de delírios
a vida é um ‘apesar’ que pesa...
Em que se pese o meu desespero,
a minha solidão reafirmada...
O meu universo, o meu eu inteiro,
que é tudo, que é todos, que é nada.