SEBO

Distante dos momentos de delírio

não vejo a vida com grande tesão.

Coço os olhos, meus cílios,

e meus olhos ficam vermelhos.

Sinto fome, andei pela cidade...

e agora lhe assisto passar pela janela.

Distante dos momentos de delírio

a vida me parece torpe.

Sem qualquer fingimento,

me sinto desesperado, desesperado...

A qualquer momento serei,

em qualquer instante teria estado...

Passado, definição do presente.

Nostalgia: arqueologia do meu ser;

que tenho eu de mim?

Como me dizer eu sem os outros?

Como contar minha fronteira?

minha inteligência? meu mérito?...

Distante dos momentos de delírio,

a vida é um mero meio...

Incômoda praxe metodológica.

Anda-se apesar da sobriedade.

movo-me sempre pela necessidade

de alguma próxima embriaguez.

Como círculos de raios diversos

cuja volta é um ciclo de satisfação.

Saciado, ainda há outras fomes,

além daquela mesma, que recomeça.

O maior dos círculos, entretanto,

não sei, mas acho que não existe.

Distante dos momentos de delírios

a vida é um ‘apesar’ que pesa...

Em que se pese o meu desespero,

a minha solidão reafirmada...

O meu universo, o meu eu inteiro,

que é tudo, que é todos, que é nada.

Andrié Silva
Enviado por Andrié Silva em 10/08/2010
Reeditado em 01/10/2010
Código do texto: T2430079