Teu Último dia

Tua palavra incisou-me como uma navalha,

Cortou-me a alma ao meio e a retalha.

Sopro-me de um lado do peito o amor,

Ficou-me doutro lado a senhora dor,

E não sei qual dos dois domina o meu ser.

Será o que mais alimento ou o que parece entender?

É arriscado presumir em qual passo mais a refletir,

Qual me achega de alento em dias infidos e de qual se abster?

É estonteante dispor de ambos os extremos para sentir,

E ao mesmo tempo não saber em qual destes se ater.

Tenho um deus e um diabo, adentro do cerne estável,

Sentimentos sucintos que exploram em uma fartura amável.

Um céu e um inferno que vive em contestação,

Um bem e um mal que se originam por meio do coração.

Agradeço à dor por fazer-me escrever e aprender,

Sou-lhe grato amor por versar, ludibriar e estender,

Todavia o equilíbrio nunca por min é abalado,

Depende sempre do qual me enfiou este duplo sentido,

E mesmo sem saber que me fez tudo isto, fico calado,

Ao olhá-la olho a olho sinto-me forte e incontido.

Desejo-a mais trucida das mortes e das torturas,

Que sofra de amores por rapazotes pífios e suas juras,

Chore entregando sua carne em tabernas para ter o de comer,

Que oscule os orifícios imundos de velhos para ter o que beber,

Ande nas vielas malditas e que pegue a pior doença,

Que o povo a queime com base em sua temente crença,

Todavia, acalmo-me e lembro-me que eu é que o farei.

Por onde ser-lhe a tortura, a jura, á lagrima, a lume,

A doença e a crença e na tua dor a ludibriarei,

Dançarei sobre o tumulo de seu ego e enterrar-te-ei com estrume.

Ficarei ébrio em teu enterro com a taça transbordando teu sangue.

Beijar-te-ei na boca com todos os sentidos e ainda que o demasiado ágüe,

As flores mortas que estarão em cima de teu horrível jazigo,

E os versos nele prescritos hão de ser tudo o que lhe digo:

Oh amada que a terra coma-lhe, devora-lhe e não entale,

Tudo seja lhe perfeito e teu corpo solene e imponente se tale.

A nênia de minha autoria servirá de principal alento,

Afora os vermes e odores, permaneça de olhos abertos.

O tempo é vindouro e requer que teu coração fique atento,

Contudo eu, minha dor e meu amor, de teu fim estão certos.

Diego Martins
Enviado por Diego Martins em 09/08/2010
Código do texto: T2428683
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.