ANARRIÊ

ao lado d’onde moro

havia uma escola

que ensinava

[em meados de um junho]

também folclórices e crendices

até aos que não sabiam contar meio ano

ao lado d’onde moro

havia uma escola

com ensino

[em meados de um junho]

mestrado pelos São Franciscos de orelha

que sabiam bem calendar os meses e os bê-á-bás

agora,

na escola que mora ao lado da minha casa,

está decretado o fim das caipirinhas,

das saias vestidas com chita,

dos anarriês das donzelas,

dos braços dados com os caipirinhos

vestidos com uma calça remendada não americana,

crentes que barbas adultas

são rolhas em brasa

e prontos para o ofício de marcador de quadrilha

ao lado d’onde moro,

uma nova escola

ensina

toda a patifaria das velhas esquinas

[sem findar anos letivos]

distante dos forrós nordestinos,

do giz, do quadro-negro, dos abecedários!

ao lado d’onde eu moro

uma nova escola

cresce:

no maternal, solta pipas

no alfabetização, solta balões

no ginasial, aprende a pilotar aviões

no colegial, descobre a sinalizar com rojões

não há busca-pés ou vulcões

na escola que mora ao lado da minha casa;

a bucha de querosene virou fumaça,

não há mais padre, juiz de paz, noiva bastante grávida,

nem pai da noiva

nem espingarda de traque

ao lado d’onde eu moro

há uma escola

que deixa as crianças – sós – pularem fogueiras!