(Três poemas concatenados)


CULPA

Guarda-me das expressões veladas
Expressa de vez tudo o que prende
Libera todas as palavras engasgadas
Xinga, blasfema, grita, até ofende

Solta toda a mais indigna indignação
Ou alguma capacidade de se indignar
Esboça, que seja, a menor reação
Para eu ao menos me incomodar

E sentir mais culpa do que a culpa que tenho
E ter muito mais culpa do que a que mantenho


DESCULPA

Guarda-me de todas as palavras caladas
Externa os dilemas, as celeumas, a ofensa
Solta da garganta essas falas marcadas
Sente, não finge, e diz logo o que pensa

E no sentir e dizer, sente e fala o que quer
Mata-me para sempre mesmo em pensamento
Mas faz alguma coisa, e faz o que bem quiser
Faz e te refaz, mas faz-me esquecimento

Que eu nem sou assim todo esse teu mal
Mesmo que neste mal eu me sinta sem igual


MEA CULPA

Eu nunca sei se fui ou não sempre assim
No que vivi e senti que nem sei se percebi
Eu não sei nunca o que ainda farei de mim
Sei de mim apenas em tudo o que perdi

E se trago essas tantas dores na bagagem
São mais dores do que as dores que senti
Passo em tudo, estou sempre de passagem
Na passagem tão fugaz do que não vivi

Trago a culpa em tudo o que não se desculpa
Desculpa ao menos eu culpar tanto a culpa...
Marcos Lizardo
Enviado por Marcos Lizardo em 09/08/2010
Reeditado em 05/08/2021
Código do texto: T2426887
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