CALAR-SE

Por mais que eu me cale

Por mais que fuja

Não dá

Por mais que me esconda

Por mais que me pinte de graxa

Não dá

Por mais que perca as lágrimas

No corredor da minha face

Por mais que contabilize todos os

Sorrisos sapateando em meus lábios

Não dá

Por mais que tente

Já está tentado

Não sou ômega sem início

Não sou factuar sem mentira

Não sou ávida sem água

Não me acho por dentro

Das minhas vísceras

Nem por fora da superfície

Está aqui

Não se encontra acolá

Está emaranhada a qualquer coisa

Não se encontra solta

No tapete rosa dos ventos a viajar

A cada gesto agressivo que lanço

Perante a arquitetura do Olimpo

Os deuses gregos

Mordem com os seus dentes

Caninos minha quimera

A cada amor que mato a sangue frio no presente

É o reflexo do passado fastidioso

Circulando na dor das minhas feridas

A cada partida que dou

Com a "pupa" dos olhos

Torno-me súdita dos sete pecados capitais

Deitada no berço da malícia

Ninguém cala o que não pode calar-se

A escrita nasceu sem ser fecundada

Pelo espermatozóide do mundo.

Fany Caruso
Enviado por Fany Caruso em 08/08/2010
Código do texto: T2426697
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