CALAR-SE
Por mais que eu me cale
Por mais que fuja
Não dá
Por mais que me esconda
Por mais que me pinte de graxa
Não dá
Por mais que perca as lágrimas
No corredor da minha face
Por mais que contabilize todos os
Sorrisos sapateando em meus lábios
Não dá
Por mais que tente
Já está tentado
Não sou ômega sem início
Não sou factuar sem mentira
Não sou ávida sem água
Não me acho por dentro
Das minhas vísceras
Nem por fora da superfície
Está aqui
Não se encontra acolá
Está emaranhada a qualquer coisa
Não se encontra solta
No tapete rosa dos ventos a viajar
A cada gesto agressivo que lanço
Perante a arquitetura do Olimpo
Os deuses gregos
Mordem com os seus dentes
Caninos minha quimera
A cada amor que mato a sangue frio no presente
É o reflexo do passado fastidioso
Circulando na dor das minhas feridas
A cada partida que dou
Com a "pupa" dos olhos
Torno-me súdita dos sete pecados capitais
Deitada no berço da malícia
Ninguém cala o que não pode calar-se
A escrita nasceu sem ser fecundada
Pelo espermatozóide do mundo.