OS LIVROS

Neles somos registados, nomeados e datados

logo depois de nascer

e deles somos riscados nessa hora do morrer

E é um livro a nossa vida, bem difícil de escrever

desde a chegada à partida

sorte triste ou divertida que não é fácil escolher

Seguindo a palavra escrita, redentora e bendita

o padre reza o sermão

dá ao menino o baptismo e ao velho a extrema-unção

Procurando conformismo nas horas de aflição

o Santo Livro pegamos

e lendo lendo rezamos pedindo consolação

Noutras horas de amargura, se temos um livro à mão

vamos juntos à aventura

espairecendo nossa agrura e alegrando o coração

Com eles podemos ser, sábios, poetas, doutores

homens de leis, professores

aquilo que se quiser... até livres pensadores

Com eles podemos ser detectives e burlões

saltibancos, visionários

soldados ou missionários partindo em grandes missões

Nos livros tudo alcançamos dependendo da viagem

sofremos, rimos, choramos

neles achamos coragem e tudo o que mais buscamos

Podemos até achar bons conselhos e mézinhas

para maleitas curar

e bruxedos para vizinhas que tiverem mau falar

E em manobras fascinantes, amarrações para amantes

que perderam o calor

ou métodos mais tocantes para vencer no amor

E até os cegos, senhores, apenas com os seus dedos

podem ver neles mil cores

descobrir os seus segredos e aprender novos valores

Livros... Nosso ensinamento! São a palavra do Cristo

dos homens de pensamento

e do poeta que, ao tempo, foi mal aceite ou benquisto

Com os livros enriquecemos, somos felizes, crescemos

e nada pedem em troca

na sua morada oca mora tudo o que queremos

Calados ficam dormindo e só espalham seu lampejo

acordando, refulgindo

ao clarim de um desejo que busca saber infindo

Leais a todo o momento, da nova era ou antigos

ao nosso lado no tempo

envelhecem sem lamento, companheiros e amigos!

(In "Ecos do Infinito")

Carmo Vasconcelos
Enviado por Carmo Vasconcelos em 13/06/2005
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