arco - íris
Em suspenso, suspensa,
suspiro e susto e sangria.
De sonhos abortados
sangue esguichado no ladrilho
a língua recolhe e engole
a boca degusta este sal
de sensações fugidias...
Turvo é o fundo deste lago
que me decifra e paralisa,
entra pelos meus olhos
percorre as entranhas
e sai pelos poros
como fel...
... e volta ao fundo
de suas indagações sem respostas.
Estou tomada deste sol-delírio
nesta noite escura,
fascínio de flor revelada
em preto e branco
que anseia a luz em teimosia
e as cores por evocação:
memórias de ígneas viradas
de arco-íris sobre o mar
e já a noite piscando
as luzes sobre a pequena cidade...
Estou inteira feita em pedaços
a parte pelo todo diz sim
o todo-ser-de-dúvida, se cala.
Então visto o manto do esquecimento
e abro a janela para o nada...
Em suspenso, suspensa,
na ida mora a volta
no instante mora o arrepio
no olho do pássaro, a incógnita.
Não viste as asas do beija-flor
desafiando teu olhar de morta-viva?
Os desejos se atropelaram na tua garganta
e o teu gesto engasgou de medo
por acaso tu viste a beira do precipício
naqueles olhos gritando vida?
Deixaste o gesto morrer ao meio do caminho
a onda passou pelo teu copro
o vento frio arrepiou tua pele
sonhaste acaso aquele corpo abraçado ao teu?
O sangue dos sonhos abortados
jorra sem parar...
... e a palavra fácil lança mel
que a boca amarga no final.
Quem adoçou assim tua solidão?
( o arco-íris sobre o mar tem
tanta cor, doce miragem!
Deixa que ele sobreviva sobre as cinzas,
lambe as feridas como o bicho que és
e te aquece docemente ao sol deste inverno... )
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Interagir poeticamente é dialogar nas entrelinhas.
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justo gesto arcoíris/ires colorir o breu/enquanto este ingênuo ateu/chora ao dormires
J, Estanislau Filho......................
"Na cinzenta opressão cotidiana,/ imposta por plúmbeas urgências,/ o sortido matizar do céu das esperanças/ doura toda nossa fragilidade, carência,/ lançando-nos de encontro à demandas,/ arregaçando o leque da consciência!"
Jorge Luiz da Silva Alves