Inexorável tempo
Há uma semana
Você me desejava boa quarta
Já se passaram sete dias
Como o tempo passa!!!
Se não passar
Ele fica amarrotado
Queria que ficasse amarrotado
Derrotado
Mas ele nunca fica e sempre passa
Nunca vi nada igual
Nem na vida nem na morte
Em todas que tive (morte)
Bicho mais teimoso!!!
O tempo passado
Pode ser dobrado
E guardado nas gavetas da memória
E como fotografias velhas
De quando em quando
Fazemos uma limpeza nas recordações
Tempo passado pode ser caçado
Com lupa e espingarda
Problema é que ele não volta
Sequer retarda
E por mais que ele tarde
Vai implacável...
Convencido que o infinito
É inesgotável para ele
Com vencimento, sem vencimento
Ele vai e não vem
De todo jeito passa
Na areia no cimento
Sem segredo
Arde mesmo... o bicho
Que nem fogo
No rabicho
E esse mesmo tempo
Que nos espia
A tantas eras
Conhece-nos amiúde
Sabe até de uma quimera
Que se apaixonou por um açude
Se transformando em primavera
Viro até lobisomem
Mesmo sendo mulher
Com essa história de tempo
Que nunca me quer crua
Sempre cozinhando a pouco fogo
Que inferno!
Esse inverno!
Que sem graça!
Nunca passa!
Triste hibernação
Em que choramos
Inconscientes e eternos
E a vida espreita
Com um olho coberto de sono
No pavor de filhos enfileirados
Dia a dia... ano a ano
Sendo devorados por CRONOS
Há uma salvação
Tem o KAIRÓS
Aí de nós
Se ficarmos só nele
Além do tempo que passa
O trem também
Na linha como algoz
Passa bem passadinho
Em cima de nós
Ficamos como estátua
Bem durinho...
Passadinho...
Engomadinho...
E bem juntinhos
Num destino atroz
Desaguando numa linha férrea
Do delta à foz.
Interação com B.