Hoje é o Tempo _ Sonetos ( 14 )
o 1º verso do 1º soneto é igual ao último verso do 14º soneto (uma Coroa tem 14 sonetos). Isto é, termina como começa.
- Cada soneto tem início com o último verso do soneto anterior.""
“Coroa de sonetos “
Hoje é o tempo
I
Não quero falar, dum tempo que já passou,
Nem das mágoas que dos meus olhos marejaram
Nem das penas que nesta vida me marcaram
São apenas lembranças, que o tempo apagou.
Quero as quimeras, que hoje o meu tempo saudou,
Saborear tudo o que os meus olhos presenciaram,
Sentir que o passado e o presente se juntaram
E o amor que me incendeia não acabou.
Há uma flor desapercebida a meu lado
Uma guitarra e um fadista que canta o fado
Felicidade, Com tão pouco se semeia!
Gostar de nós e do nome que nos foi dado
Da família, de um amor sempre a nosso lado
Cultivar o amor em tudo que nos rodeia
II
Cultivar o amor em tudo que nos rodeia
Obra esculpida, muito bem arquitectada
Sorrir, mesmo para aquele que nos odeia
Também saber compreender esta longa estrada
Quem amigos tem, amigos, também semeia.
E quando a vil agrura, acercar da portada
Os turbulentos dias que trago na ideia,
Serão tragados p’la maré antecipada.
Não foi fácil, toda esta longa caminhada
Onde a Esperança teve sempre sua morada
Já que, pelo meio e quase sempre em declive,
A tal felicidade, tremida e almejada,
Nem sempre acompanhou esta minha jornada,
Mas, em poesia ela é cantada e sobrevive.
III
Mas em poesia ela é cantada e sobrevive,
Nos meus desejos escolhidos de vivência.
Canto em versos, esta alegria que ainda vive,
Através do tempo e com toda a eloquência.
De braços estendidos, sempre me detive,
P’los caminhos, nos rios de minha existência.
Na minha mão a palavra aquosa revive,
No espelho de minh’alma as lisuras e ciência.
Agarro, tijolo a tijolo, palmo a palmo
Desta vida já vivida...e depois me acalmo.
Sob um rebanho de nuvens edificado;
E galgando passo a passo todo o caminho,
Vivo o hoje sem sobressalto, neste cantinho,
Onde tudo é o nada…e o nada, é um sonho alado.
IV
Onde tudo é o nada e o nada, é um sonho alado,
Meço o tempo, num reflectido silencioso,
Onde os momentos ganham voz, voz de um passado,
Trancados num cofre e são um bem tão precioso!
Hoje é o tempo em que o tempo é um templo sagrado,
È obra bem prosada de um escultor glorioso
Relíquias várias, guardadas num tracejado.
Hoje é o tempo em que o poeta, canta vitorioso.
Não sei se alguma história, irei recuperar.
Bem no fundo da alma é lá que deve ficar,
Á espera que um dia em poesia se eternize.
Talvez a pena, num silêncio ao versejar,
Possa em forma de estrofes a vida lhe dar,
E num tempo etéreo o sonho se concretize.
V
E num tempo etéreo o sonho se concretize,
Pois nascemos sob o signo do Amor Sagrado.
Sendo assim, que a felicidade, se enraíze!
Fixo estrelas no horizonte, e enterro o passado.
Silencio a Suez dor, até que se amenize,
Na teia urdo as palavras, sob um luar prateado
Pinto raios de sol, na tela o meu matize,
Do tempo de hoje que é, o tempo já passado.
Por mais que invente o hoje, também faz chorar.
Sabes!? O homem se esqueceu do verbo amar,
Usa-o num tempo hediondo de guerra e de mísseis;
É a gélida verdade, dos tempos que correm
São crianças, velhinhos, e animais que morrem,
Mãos que ateiam florestas, são horas difíceis!
VI
Mãos, que ateiam florestas, são horas difíceis!
Sabes? Neste quadro em que pinto a paz e anseios,
Lapido o amor, rabisco da dor só os resquícios.
Quisera os sonhos meus, não fossem devaneios!
Quisera um Mundo sem dor, sem fome, sem reis,
Esculpir os sorrisos de anjos sem receios,
Escultura bela em quadro onde sabereis,
Abraçar um irmão, facultar seus esteios.
Este é o meu tempo, voa, divaga como ave;
Repouso meu olhar, e faço um voo suave
Acredito no amor e na Esperança alcançada;
Silencioso meu temor, porém resoluto,
Meu íntimo sentir, crer no amor absoluto,
E crer na paz servil, duradoura e almejada.
VII
E crer na paz servil, duradoura e almejada,
É o sonho do futuro a rota que traçamos.
"O hoje, é o sempre e o sempre é a nossa longa estrada"
De pés fincados nas certezas avançamos!
Se é o mal que se semeia, do mal a abalada,
Culpa do homem, façamos o que façamos!
-Que lúgubre poesia em minhas mãos traçada!
Neste hoje, que nem sabemos para onde vamos!
Quero o hoje sem passado…um hoje tranquilo;
Minhas palavras se esvaem…não têm sentido!?
São verdades secretas, que escorrem em meus dedos!
De tantas guerras, impossível tudo enfeitar!
Rabisca poeta! Esconde a dor do teu olhar!
Daquele olhar com o qual, disfarças os teus medos.
VIII
Daquele olhar com o qual, disfarças os teus medos,
Acreditando no hoje, e na paz do futuro;
Peregrino sentindo, incólumes os segredos,
Definhando sua dor, em estrofes de amor puro.
Poeta és tu e eu…eu persigo os meus enredos,
Pedinte sem afago, esquecido e obscuro.
Sou riacho pungente, por entre arvoredos,
Vou sem rumo exaurido, enquanto procuro;
Viver o hoje fugaz, tudo me apraz erguer;
Sou peregrino exausto e na Fé vou vencer,
Sou espírito aprendiz, seguindo novo rumo;
Em consciente jornada, neste mundo vil!
Canto em versos o inverso na era de dois - mil;
No meu interno, um sonho comedido e assumo!
IX
No meu interno, um sonho comedido e assumo!
Crio meu próprio mundo irreverente e feliz;
Num ardiloso ansiar invento o meu resumo.
Sigo débeis murmúrios que a vida me diz.
Vislumbro esse cantar, do bago o puro sumo;
Tingindo a taça a cor do meu rubro verniz,
Nos tempos de hoje, esvoaçam nuvens de fumo;
Negro fumo em aguarelas de um aprendiz!
Dispo todo o mal, dou-lhe a forma que desejo,
Mitigo a dor do Mundo, e hoje aqui despejo,
Retalhos de quem espera o sol das Primaveras.
No Outono da vida, a vida passa fagueira,
Em meus olhos o luar, da lua feiticeira
Onde estrelas mil desenham no azul quimeras.
X
Onde estrelas mil desenham no azul quimeras;
Como eu era… cabelos negros p'la cintura,
Quanta alvura! Que perfume o das primaveras!
Quando ao som de um twist... ostentava formosura!
Eram “anos dourados” de um tempo de esperas,
Eram beijos roubados, de amor e alma pura;
Ancorados no peito, como raízes de heras.
Inebriantes sonhos, cheios de candura.
Descobri o amor que aflorou meu coração;
Revivo aqueles momentos com emoção.
Um querer a qualquer tempo o tempo perdido;
Invento-me poesia, escondo a solidão,
Rabisco a pena, linhas singelas na mão
Lapido um poema obra e arte, todo o sentido!
XI
Lapido um poema obra e arte, todo o sentido!
Limito-me a sonhar; pois sinto-me impotente.
Remansos de mim, rabisco um poema exaurido,
Minh’alma contando histórias pra toda a gente.
Dou-lhe asas para que voe, alegre ou plangente,
Em estado permanente, indolente ou espargido,
E rumo às marés, ouve-se um canto fremente.
É a voz do poeta que entoa um eco perdido;
São retalhos da vida em forma de oração,
Despidos de vaidade, são toda a emoção.
Desta paridade em que o tempo é realidade;
A realidade é absoluta e transcendente,
Sonha o poeta cantar o amor resplandecente
E recitar pra toda a gente sem maldade.
XII
E recitar pra toda a gente sem maldade
Calmamente atravessar caudalosos rios;
Histórias multicores, que sua alma invade.
Pontes, barreiras, ultrapassa desafios.
O mundo é inspiração, no guião de sua verdade.
Sua inocência leda, enfrenta dias frios;
Melodioso trinar, num olhar de saudade,
Num olhar de saudade, em campos luzidios.
Sorriem no jardim, flores num tempo hostil,
Melodia ao vento…anúncio primaveril;
O adejar da ave, entrelaça esvoaçante;
E a feliz Natureza, sem nunca prever,
Que em teias de frieza, a fariam arder.
E entre sofismas, canta o poeta de rompante!
XIII
E entre sofismas, canta o poeta de rompante!
Ontem, hoje, amanhã, a voz não calará!
E a certeza de um futuro vil e inconstante;
Sonha o ontem que sabe, jamais voltará.
Canta o amor o poeta, canta um som silente!
Do tempo que passou, vis sóis encontrará.
E as asas de um bom-vento, trará certamente,
Um novo alvor ao cais, onde o amor viverá!
(Se o sonho chega ao fim, dele não quero acordar;
Cravo palavras. Nas mãos questões sem moldar.
Em tons amarelados, anseiam ter voz;)
Deixem que fluam…aos ventos os simples versos…
Singelas melodias, p’lo Mundo dispersos;
Trinam em sinfonias, neste Mundo algoz.
XIV
Trinam em sinfonias, neste Mundo algoz.
Que a voz me doa ao desfolhar o malmequer
Indelével poesia, em magia até vós…
E em vossos cálices, meu universo de mulher!
Vou recitar teu nome, enquanto eu tiver voz!
Desatar nós do tempo, um tempo que se quer;
Das flores os odores, das guerras seus pós;
Sem conflitos poesia, preciso teu crer!
Quero o tempo que resta, Viver sem carpir;
Crer em ti, em mim, no Mundo, um lindo porvir!
Hoje o espelho me diz: O que fui…o que sou!
Na berma do tempo o tempo flui, p'ra além-mar,
Quero o hoje sem ter, o ontem p'ra recordar…
Não quero falar, dum tempo que já passou!
Cecília Rodrigues _ 2006 _ Portugal
Revisado em Agosto _2010
www.cecypoemas.com