Mulher Nua
Tão confusa a mente...
sai pelas ruas sem notar
que a dignidade esqueceu de calçar...
Os pensamentos embaralhados
lhe impedem de reparar
a nudez moral com a qual está a desfilar
nem percebeu que a base e o pó,
o desrespeito,
não puderam disfarçar...
Ao fazer a oração ao Senhor Bom Jesus de Pirapora,
percebe que é impossivel ajoelhar
Corpo tremendo...
sai do sol,
pra conseguir melhor enxergar...
o sal ainda lhe chega aos lábios,
no muro não consegue debruçar...
Como pode deixar o amor próprio embolorar?
Talvez ainda esteja jogado ao fundo de algum armário,
com um pouco de ajuda dos amigos,
acredito,
possa encontrá-lo e o restaurar...
E aquele sorriso gostoso
que os olhos faziam brilhar,
por que abriu mão de usar?
Lhe caia tão bem...
E usado junto com o respeito,
e a dignidade que esqueceu de calçar,
bem vestida iria ficar...
Os cabelos antes vistosos,
no momento não podem serem escovados,
mas logo vai dar pra neles tocar...
talvez seja a hora de alguem
que também goste de lhe fazer tranças chegar...
Finalmente a saudade do amor,
há uma década partido,
irá superar...
lenços de papel e abraços sinceros,
reconfortam,
mas não apagam o que o corpo sente...
nem o que aterroriza a mente...
Ah! Ingenuidade em pensar
que as grades das janelas
não deixariam tudo atravessar...
essa tua nudez,
todos puderam observar...
em teu cantinho,
tantas evidências
de dor, medo e violência
só não viu quem se permitiu enganar
e de poesia triste preferiu denominar...
O grande Mestre Levi de Mello
me lembrou aquela frase:
"Mas vale um fim amargo,
do que uma amargura sem fim"
Amanhã,
vestida de novo
e sorrindo assim...
Despida, pra sempre, dessas algemas,
que tiveram o esperado fim...
e quando de amor
te ouvirem contar
não será mais imortalizando os momentos
que as amigas pediram pra ilustrar
nem sobre momentos vividos,
que nas distantes lembranças,
foste obrigada a buscar...