Seguir o mestre II

Se eu quisesse deixar meu recado, palavras não me faltariam,
mas será que seria capaz de expressar claramente
o que dói, o que cala, o que faz o meu canto tão triste!
Poesia silente, para que serves tu?
Neste espaço em que cabes na palma da mão,
quem de ti se aproxima, qual razão achará,
se o vazio que cria destrói as belezas da fonte...
Não te alcanço coroada de louros, de esplêndidas luzes;
antes disso, percebo esse escuro de que te rodeias,
qual buraco mais negro tragasse palavras sem volta.
Quando solta a mais simples estrofe, a escorrer tão vazia,
pois do sopro ligeiro não vejo voarem fagulhas,
tu me aguças a fome que tenho da tal criação.
Se a palavra que digo desliza, imprecisa, do alto da pedra,
é que medra a vontade de um dia sumir nas beiradas
e que nada relembre das formas que um dia eu amei...


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