Imagem:boneca Florinda, da artista plástica Maria Luiza Falcao(da APPERJ)


Da Infância




A criança que fui
permanece enrodilhada em mim.
Chupa um dedinho
e veste um vesto bordado .
Adormentada,
em posição fetal,
sobre si mesma dobrada...

Essa criança não cresce:
manhosa e confiante,
acredita em gente grande.
Ouve o pai assobiar
e a voz materna
contos contar,
e nela gestar,
com linha furta-cor,
de seda, interminável
a contadora de histórias,
a fazedora de versos
que sempre serei
por herança inconteste...

Saudade da infância,
quando a dor
não fizera ninho
em minha alma
e eu pulava corda,
saltava amarelinha,
brincava de roda,
pensava que cada estrela
era bem pequeninha,
no céu apenas
até que eu fosse
buscar uma ,cintilante
para caber qual vagalume
na palma de minha mão...(*)

Clevane Pessoa de Araújo Lopes
Belo Horizonte,01/10/2005

(*)Minha mãe me ensinara a declamar:

"Vejo à noite,uma estrelinha
no céu piscando,piscando...
Mamãe disse,
que ela pisca,pisca,é me chamando...
Quando eu crescer
e o papai me comprar uma avião,
vou te buscar,estrelinha,
na palma da minha mão..."