I
Um dia os olhos perdem o brilho
E a pele impoluta perde o viço
O corpo outrora ativo perde o vigor
Um dia os sonhos se desvanecessem
A esperança desancada esmorece
A vontade arrefece o passo largo
E larga-se de querer tanto querer
E a gente se apega em esperar
Que a vida enfim feche o ciclo
Num círculo último e necessário
Um dia vai-se dormir com dez anos
E no outro acorda com cinquenta
Um dia atinge-se um último horizonte
E se chega tão perto de seu limite
Dali para diante nada, mais nada
De repente, resolve-se que tem medo
Do desconhecido abismo insondável
Da escuridão, talvez, imponderável
Da miserável condição humana, concluir
Que a vida vivida passou tão rápido
E paira no ar aquilo tudo que não fiz
Exatamente tudo aquilo que tanto quis
A inquietação da incerteza, a dúvida
Perguntar-se se foi ou não foi feliz
II
Um dia reina apenas o medo
E esse medo mora no recôndito
No inaudível do incompreensível
Do impossível de qualquer indagação
Ver que se pensa muito e vive pouco
E faz mais do que ser, tem mais do que sente
Marcar na agenda todos os vãos momentos
Que se irá viver assim tão protocolarmente
Que inutilmente se viverá sem perceber
Que tem muito mais no que nem se sente
Por largar, talvez, das emoções as mais certas
No urgente da hora ida perdida apressada
E o olhar para o instante que se perde
Sem que se perceba nele a eternidade
A mesma eternidade oculta nos momentos
Deploro a pressa, a farsa do que consumo
O que ao consumir a mim me consome
Deploro os mitos, os ritos, os gritos
O gosto por temores sobrenaturais
Deploro as messes, as missas, as premissas
O imperativo dessa absurda competição
Deploro toda essa alienação bem informada
A deformada informação sobre tudo
Tão exímia em não informar nada
III
Um dia um momento inevitável
De súbito, um olhar no espelho
Um mergulho ao insofismável
Do interior profundo de si mesmo
Emoção furtiva, alegria festiva
Estar vivo pulsando vontades
Voar afoito buscando intensidades
Sedento de certa imensidão
Faminto de seus próprios temores
Audaz enfrentamento de si mesmo
Vencer as suas incompletudes
Completar-se de todos os silêncios
Prescindir de quaisquer palavras
Entender esse não entender a vida
Não entendendo entender a vida
E precário de qualquer verdade
Transbordar em nua realidade
Não mais pensar o que é só sentir
Pressentir ininteligível eternidade
Essa soma inefável de efêmeros
Resultado provável do intuitivo
De um dia saber todas as respostas
E não formular pergunta alguma
Todas as vidas vividas em apenas uma
Um dia os olhos perdem o brilho
E a pele impoluta perde o viço
O corpo outrora ativo perde o vigor
Um dia os sonhos se desvanecessem
A esperança desancada esmorece
A vontade arrefece o passo largo
E larga-se de querer tanto querer
E a gente se apega em esperar
Que a vida enfim feche o ciclo
Num círculo último e necessário
Um dia vai-se dormir com dez anos
E no outro acorda com cinquenta
Um dia atinge-se um último horizonte
E se chega tão perto de seu limite
Dali para diante nada, mais nada
De repente, resolve-se que tem medo
Do desconhecido abismo insondável
Da escuridão, talvez, imponderável
Da miserável condição humana, concluir
Que a vida vivida passou tão rápido
E paira no ar aquilo tudo que não fiz
Exatamente tudo aquilo que tanto quis
A inquietação da incerteza, a dúvida
Perguntar-se se foi ou não foi feliz
II
Um dia reina apenas o medo
E esse medo mora no recôndito
No inaudível do incompreensível
Do impossível de qualquer indagação
Ver que se pensa muito e vive pouco
E faz mais do que ser, tem mais do que sente
Marcar na agenda todos os vãos momentos
Que se irá viver assim tão protocolarmente
Que inutilmente se viverá sem perceber
Que tem muito mais no que nem se sente
Por largar, talvez, das emoções as mais certas
No urgente da hora ida perdida apressada
E o olhar para o instante que se perde
Sem que se perceba nele a eternidade
A mesma eternidade oculta nos momentos
Deploro a pressa, a farsa do que consumo
O que ao consumir a mim me consome
Deploro os mitos, os ritos, os gritos
O gosto por temores sobrenaturais
Deploro as messes, as missas, as premissas
O imperativo dessa absurda competição
Deploro toda essa alienação bem informada
A deformada informação sobre tudo
Tão exímia em não informar nada
III
Um dia um momento inevitável
De súbito, um olhar no espelho
Um mergulho ao insofismável
Do interior profundo de si mesmo
Emoção furtiva, alegria festiva
Estar vivo pulsando vontades
Voar afoito buscando intensidades
Sedento de certa imensidão
Faminto de seus próprios temores
Audaz enfrentamento de si mesmo
Vencer as suas incompletudes
Completar-se de todos os silêncios
Prescindir de quaisquer palavras
Entender esse não entender a vida
Não entendendo entender a vida
E precário de qualquer verdade
Transbordar em nua realidade
Não mais pensar o que é só sentir
Pressentir ininteligível eternidade
Essa soma inefável de efêmeros
Resultado provável do intuitivo
De um dia saber todas as respostas
E não formular pergunta alguma
Todas as vidas vividas em apenas uma