A PARTE QUE ME RESTA

Sou a parte do bolo que ninguém come,

A sem importância,

Onde raspam e jogam fora,

Sou a parte do corpo em que a dor consome,

O rosto em que a criança,

Ao olhar chora,

Sou a parte do dia que ninguém contempla,

As horas mortas desprezíveis,

O lado escuro da vida,

Sou as linhas de um poema, esquecidas,

As insensíveis,

Onde a rima não se assenta,

Sou os olhos horrendos do abutre,

Que voando contemplando a paisagem,

Só enxerga carne podre,

E se empanturra de carniça,

E ao voar levanta a folhagem,

Fugindo das pedradas que o seguem,

Sou as catástrofes naturais,

Embora não aceitáveis,

Muitas delas os homens criam...

Sou os poluídos mananciais,

Os lixos não perecíveis,

Que ninguém quer, mas, se adaptam,

Contudo, algumas vezes, sinto-me feliz,

Pois sempre haverá alguém que coma todo o bolo,

Sempre existe alguém ao longe olhando um pássaro,

Sempre haverá poesia para um dia infeliz,

Sempre haverá esperança depois do terremoto,

Sempre há utilidade para um lixo reciclado.

Tomb
Enviado por Tomb em 28/07/2010
Código do texto: T2404841
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